- #poluição
- #ruído
Olá. Eu estive a pensar. Achei que fazia muito pouco sentido falarmos de poluição sonora e não dizer nada sobre poluição ambiental. É claro - e com razão - alguns de vocês dirão (riso)... Agora lembrei-me, "Até tu, Brutus?"... Pronto, mas "Até tu, Machado Vaz?", mas nós praticamente não lemos nem vemos nada que não venha com poluição ambiental. E admiram-se? Nós estamos numa situação grave e muitos artigos, muitas notícias nas televisões, nas rádios, etc., é indiscutível que existem.
Em contrapartida, medidas tomadas, tenho mais dúvidas. Vejam, assistimos a quadros dantescos na Amazónia, com nuvens de fumo em S. Paulo. Eu, como tantos outros, assisti a algo por essa Europa fora que, para mim, é algo de novo. Até aqui há 2 ou 3 anos, nas grandes metrópoles, em geral, quem é que andava com aquelas máscaras - que às vezes tem uma motivação muito nobre que é, sei lá, alguém que está gripado não quer ser contagioso para outras pessoas - mas nós tínhamos muito o hábito de ver quem? Pessoas de origem asiática que vinha de cidades extremamente poluídas e que estão habituadas a usar essas máscaras.
Bom, este ano, por essa Europa velha, eu fui encontrando europeus que já aderiram... eu ia dizer a esse tipo de moda, mas não é bem moda, é a essa necessidade. É evidente que podemos, também, ficar com as questões de como é que estão os nossos mares, não é? Quer dizer, quando nos dizem que vogam por aí ilhas de plástico de dimensões verdadeiramente inacreditáveis, quando nos anunciam que 1/3 - se bem me lembro - do peixe que nós comemos já tem determinadas partículas e plásticos, etc., temos que concordar que a situação não é encorajadora. Mas, talvez pelos holofotes estão tão centrados nesse tipo de fenómeno, vou repetir, e bem, e bem, nós estamos numa situação que se aproxima rapidamente do não retorno... E vocês dirão "Sim, mas a poluição não nos mata todos ao mesmo tempo, ou não nos obriga a deslocar-nos todos ao mesmo tempo, ou grande parte de nós, como por exemplo a subida do nível dos oceanos". É verdade, mas a poluição de uma forma lenta, mas segura, nomeadamente, olha, a nível das doenças respiratórias, faz o seu trabalho. Eu diria, faz o seu trabalho letal.
Mas porque é que eu hoje estou com um papel aqui? Não vou fazer nenhum anúncio ao País que tenha que ler. A razão é mais prosaica e mais triste. É que hoje em dia, muitos números já têm tendência a baralhar-se na minha cabeça e eu não quero cometer a indelicadeza e o erro de vos passar informação errada. Mas nós estamos habituados a associar poluição... olha, um pouco a isto, a espaços ao ar livre e acabamos por desleixar um tipo de poluição que é perigosíssima e que mata ou, pelo menos, transforma vidas em verdadeiros calvários: poluição caseira. E dir-me-ão "Homessa, mas porquê? Não consegue vedar bem as janelas? Não consegue, eventualmente, abrigar o seu lar daquilo que vem de fora?", mas é que eu não estou a falar daquilo que vem de fora. A maneira como nós cozinhamos e a maneira como nos aquecemos são dois fatores importantíssimos para eventual poluição. Por exemplo, se queimarmos querosene, por exemplo, ao queimar a madeira normalíssima. Eu disse-lhes, tenho aqui um papel para vos dar números e alguns deles são terríficos. Vejam isto: cerca de metade das mortes por pneumonia entre as crianças com menos de 5 anos de idade, são causadas sabem porquê? Por partículas de algo que todos nós já encontramos, de fuligem. Inalada, por poluição caseira. E grande parte de vocês está a dizer "Em minha casa, não". Claro.
Para variar, estamos a falar de quê? Estamos a falar sobretudo das pessoas mais pobres, vivendo em países de baixos ou médios rendimentos e - quem é que está mais tempo em casa? - das mulheres e das crianças. Isto significa que cerca de 3 biliões... Quando se fala de tantos zeros, isto quase que perde o significado, mas cerca de 3 biliões de nós, ainda vive em condições desadequadas a este nível. Ora nós somos cerca de 7 biliões e meio, isto é quase metade. E em termos das patologias, temos de tudo, com as respiratórias à frente - as pneumonias, as doenças obstrutivas - mas depois também as cardiovasculares, etc. Bom, falámos de crianças, continuemos a falar de crianças. 3.8 milhões morrem prematuramente, por ano. Crianças, sobretudo, e jovens.
Sem medidas, tudo estará igual - igual - em 2030, num mundo em que 1 bilião de pessoas continua a não ter eletricidade. Eu não gosto muito de números, mas também não podemos evitá-los. Isto representa um fosso brutal e, portanto, quando nós dizemos que a poluição é um problema global, podemos dizê-lo - e se calhar temos a obrigação de o repetir - e temos o direito de dizer que estamos todos metidos no mesmo barco, mas não nos iludamos: mesmo que esse barco seja um novo Titanic, alguns de nós vão-se afundar na primeira classe e outros vão-se afundar no porão e com menos hipóteses de chegar aos barcos salva-vidas. E portanto, também nesta área, se calhar não era mau pesarmos assim "Habitamos todos o mesmo planeta, temos todos problemas semelhantes, mas não estamos todos à mercê desses problemas da mesma forma".
E, por isso, tudo aquilo que sirva para diminuir este fosso entre classes sociais e económicas, contribui em termos absolutos para uma melhoria da saúde global e contribui em termos éticos para que possamos olhar o próximo - se quiserem utilizar a nomenclatura que foi a nossa na herança judaico-cristã - possamos olhar o próximo com uma consciência mais tranquila. Tranquilo, ou não, é a altura de eu me despedir e me ir embora. Até à próxima.
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